sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Uma viagem transcendental


Terrence Malick é um diretor enigmático. Definitivamente, não é um diretor para as massas. Ponto. O cinema que ele faz é intrínseco, pessoal, poético e até filosófico. Ele investe seu corpo e sua alma em seus projetos, não a toa só lance uma obra a cada 5 ou 6 anos, ou até mais (de “Days of Heaven”, de 1978, até “Além da Linha Vermelha”, seu filme mais badalado, foram 20 anos!). E muito provavelmente isso explique a perfeição e lirismo com que ele nos brinda em seus projetos (até mesmo o insosso “Novo Mundo” tem algo de belo e definitivamente profundo que faz o espectador  refletir). “ÁRVORE DA VIDA” pode ser definido então como a sua obra-prima (até então), pois mostra o amadurecimento de um diretor que não está aí para os holofotes, mas que ama de verdade o seu ofício e quer com ele transmitir algo de bom para o mundo.

O filme não tem um roteiro tradicional, não há começo, meio e fim, mas por mais absurdo que isso possa soar, ele tem seus três atos muito bem definidos ao contar a história dos O’Brian,  uma comum família texana nos anos 1950, com uma mãe (Jessica Chastain) dona-de-casa que vive para a família, um pai amoroso mas bastante austero (Brad Pitt, cada vez melhor em cena), que faz tudo para que seus três filhos cresçam com dignidade e se tornem adultos íntegros, tementes a Deus, felizes e realizados pessoal e profissionalmente. Essa autoridade paterna começa a ser questionada pelo filho mais velho pré-adolescente, e com suas dúvidas e reflexões sobre a vida – mostradas também em sua fase adulta, quando é interpretado por um angustiado Sean Penn, que relembra o afastamento que teve da família, principalmente após a morte de seu irmão do meio aos 19 anos, por motivos que não são, e nem precisam ser, explicados – que temos o paralelo com a criação do universo, o surgimento improvável da vida, o apogeu e declínio dos dinossauros, o nascimento da humanidade e sua própria espiritualidade. Aliás, a passagem que mostra o nascimento do menino é de longe a mais bonita de todo o filme, remetendo aos planos etéreos, a reencarnação, a busca pela luz, que fazem qualquer desses recentes filme sobre espiritismo ou espiritualidade parecerem piada.

Com fotografia de tirar o fôlego assinada por Emmanuel Lubezki e uma trilha sonora intimista, sem contar a ágil edição, que mesmo assim nem de longe assemelha-se como um paranóico videoclip como se vê em filmes de ação – Terrence Malick brinca de Deus ao expor sem pudor os conflitos internos de seus personagens e mostrar que cada um deles – cada um de nós, na realidade – é parte, nem que insignificantemente menor, mas nem por isso menos importante, de todo o cosmos e a ele estamos ligados, muito mais espiritualmente do que possam imaginar.

Sim, definitivamente, “ÁRVORE DA VIDA” não é um filme para as massas, tampouco, ouso dizer,  vai agradar a todos, nem aqueles que se julgam intelectualmente superiores. Mas merece ser visto e revisto. E refletido.

Confira o trailer, em HD:


2 comentários:

  1. Belo post, belo filme, meu caro Poggi. Fico feliz que tenha gostado deste filme. Ele já faz parte do meu da minha seleta lista de filmes favoritos e tenho certeza que será um filme que irá resistir ao tempo. Daqui algumas décadas as pessoas lembrarão deste filme como uma verdadeira obra-de-arte. Malick em estado genial.
    Abraços!

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  2. Valeu, Thiago! Realmente é um filme para poucos e fico feliz de ser um dos privilegiados que puderam apreciar essa obra! Estou ávido pelo Blu-Ray!

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