quinta-feira, 12 de julho de 2012

Não tão espetacular assim


Há exatos 10 anos e dois meses estreava nas telas do Brasil (e também mundo afora) o filme que mudaria para sempre a forma de se contar uma história em quadrinhos de um super-herói nos cinemas: “Homem-Aranha”, dirigido por Sam Raimi e escrito por David Koepp (baseado no personagem criado pelo lendário Stan Lee, em parceria com Steve Ditko) trazia Tobey Maguire no papel do adolescente novaiorquinho, tímido, inteligente, fã de fotografia, criado pelos tios idosos e apaixonado pela vizinha Mary-Jane (Kirsten Dunst), que viria a ser picado por uma aranha geneticamente alterada (nos gibis a aranha era radioativa, numa sincronia com seu tempo, a década de 1960) e se transformaria no “amigão da cidade”, defensor mascarado de Nova York e perseguido pela polícia e pelo editor do Clarin Diário, J. Jonah Jameson (J.K. Simmons, em inspirada interpretação), aliás, seu chefe no jornal para o qual ele vende fotos.

Três filmes depois, e desgastado pelas críticas negativas (nem tão merecidas, vai...) ao terceiro filme da franquia, tanto diretor quando equipe técnica e artística (incluindo ai o excelente elenco, presente nas três fitas) decidiram tirar o corpo fora, mesmo que o contrato para um quarto filme já estivesse em andamento. Como a Sony, detentora dos direitos do personagem da Marvel para o cinema, não queria ter um filão milionário desses fora de seu catálogo (e empolgada pelo sucesso de outras franquias de super-herois, como o Batman, de Nolan, os próprios X-men e mais recentemente Homem-de-Ferro, Capitão América e os Vingadores, todos da Marvel/Disney), resolveu jogar tudo para o alto e contratar novos diretor, roteiristas e atores; começar tudo do zero mesmo. Inclusive a franquia. Ou seja, se nos últimos 10 anos você se acostumou com Toby Maguire, Kirsten Dunst, James Franco, Rosemary Harris e J. K. Simmons, pode dar shift+Del em sua mente, jogar seus DVDs e BDs no lixo (ok, sem jogar nada no lixo, por favor!) e acostumar-se com novos rostos que (cedo demais, essa é a verdade) estão dando vida aos personagens da franquia. Aliás, novos personagens! Esqueça Mary Jane por enquanto; a namorada de Peter agora é Gwen Stacy (a engraçadinha Emma Stone), o que, de acordo com os quadrinhos, era sua primeira namorada mesmo.

As comparações entre os filmes são inevitáveis, muito mais do que a comparação entre o Batman de Tim Burton, de 1989, e o de Christopher Nolan, de 2005, justamente por conta do pouco tempo entre o fim da franquia anterior e o início desta nova, cuja seqüência já está prometida para 2014 (se o mundo não acabar no fim deste!). Ambos filmes começam apresentando o personagem, claro, seus dramas, a picada da aranha, segue com a morte do tio, e ponta-pé inicial para o “nascimento” do Aranha (aliás, há a lição de moral de tio Bem para Peter!), temos o surgimento do improvável vilão, da mesmíssima forma que foi mostrada em 2002, quando Norman Osborne (Willem Dafoe) se usa como cobaia humana para a experiência genética, e tudo termina com um funeral num dia chuvoso e Peter se afastando de seu amor para protegê-la.

Não, não contei qualquer spoiler. Se você viu o filme de Sam Raimi, então o filme de Marc Webb vai parecer um dejá vu completo! Aliás, um dejá vu de duas horas e meia! Sim, o filme é longo e o roteiro de JamesVanderbilt, Alvin Sargent (dos dois últimos Homem-Aranha) e Steve Kloves (da franquia Harry Pottet) não ajuda muito a deixá-lo mais interessante. Há lacunas não preenchidas e falta de ritmo em muitas partes. A inclusão de uma pré-trama para “explicar” o sumiço e morte dos pais de Peter, que o deixaram aos 7 ou 8 anos aos cuidados dos tios Ben e May (Martin Sheen e Sally Field), é totalmente non-sense e desnecessária. Não explica coisa alguma muito menos instiga uma associação com seu destino. Interessante, no entanto, foi mostrar Peter Parker como ele é; um geek, afoito em tecnologia, que tem a fotografia como hobby, nada mais. Por conta disso, volta o disparador de teias, ao invés da “ejaculação” de teias pelos pulsos do rapaz nos filmes de Raimi.  

A direção de Webb é excelente, principalmente nas cenas mais humanas da história, quando Peter sofre bullying e apanha, e já com super-poderes humilha seu adversário na escola (que vem a querer ser seu melhor amigo no final! What the hell?!). Mas são nas cenas de flerte com Gwen que o diretor de “500 dias com ela” consegue mostrar seu potencial e tirar de seus atores interpretações convincentes.  Andrew Garfiled é bom ator, mas tem que comer muito feijão com arroz ainda para ser o mané de carteirinha que To0bey Maguire foi nos três filmes anteriores. Ele até pode ter cara e jeito de garoto, mas aos 28 anos fazer um papel de um moleque de 17 exige um pouco mais que um rosto imberbe. Potencial ele tem, basta explorá-lo.

Como entretenimento, “O espetacular Homem-Aranha” cumpre seu papel. Diverte. Apenas isso. E não deixa muita vontade de ver outro...



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3 comentários:

  1. Eu tenho meio que uma preguiça com esses "origem". Sinto como se tudo fosse uma tentativa de [só] ganhar dinheiro com a fama alheia.

    Vide o caso d'O Homem-Aranha. Seria interessante se contasse o que não foi mostrado no primeiro filme (que nem é tão velho assim pra justificar um remake), mas é o homem-aranha e todo mundo quer ver a partir de quando ele é picado. Não teria graça um filme inteiro pré-picada.

    Eu torci bastante o nariz pro X-Men, mas agora tou querendo assistir por causa do Fassbender. O Planet dos Macacos eu achei bem legal, mas ele funciona até pra quem não conhece a história.

    Não é possível que esteja faltando ideias originais pra filme...

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  2. Ainda não vi este filme, mas desde o início o projeto quando anunciaram que iriam rebutar toda a franquia não fiquei nem um pouco interessado em assistir a nova versão, por causa da proximidade dos filmes. Vc me confirmou, como outras pessoas tb fizeram, que este filme nada acrescenta à história do homem aranha. Se pelo menos tivesse coisas novas dos quadrinhos que não foram mostradas nos 3 primeiros, valeria a pena. A única coisa boa deste novo filme foi a inclusão da Gwen Stacy, a verdadeira namorada do Peter.

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    1. Ulisses, lembrando que Gwen e seu pai estavam no terceiro filme, mesmo que de forma, digamos, não muito fieis à mitologia do Aranha (aliás, o terceiro filme todo é meio esquisito).

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