quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Ao mestre, com carinho e muito “lens flare”!

Os anos 1980 volta e meia cismam de ressuscitar, seja na TV, seja na música, seja no cinema. “A década perdida”, como os economistas a chamam, foi, sem dúvida, a mais divertida. Nós, brasileiros, temos um carinho mais do que especial por ela, pois foi aí que houve a reabertura democrática após 20 anos de ferrenha ditadura militar, e foi aí  também que a cultura pop nacional estourou de vez, com o boom do B-Rock, muito bem representado por Ira, Capital Inicial, Ultrage a Rigor, Blitz, Kid Abelha e, claro, Legião Urbana e Paralamas do Sucesso. O Rock in Rio, que está prestes a dar as caras novamente por essas terras, foi o auge desse movimento que, também presente em outras mídias, como TV e Cinema, fez daquela década a mais divertida de todas. E nos EUA não foi diferente, tanto que Hollywood hoje, numa carência sem  precedentes de originalidade, está fazendo remake atrás de remake de sucessos daquela época – na maioria das vezes, desnecessários  e com qualidade duvidosa – o que faz os nostálgicos e amantes da sétima arte arrancarem os cabelos da nuca em desgosto!

Mas eis que há vida inteligente, afinal de contas, em Hollywood, e de vez em quando somos brindados com uma verdadeira ode aos anos 1980, sem estereótipos, sem remakes, sem pieguices, apenas nostalgia da boa. J. J, Abrams (criador de Lost), o nerd cinéfilo que todos os nerds cinéfilos gostariam de ser ou de pelo menos estar em seu lugar (eu mesmo incluído), realizou um sonho de infância e conseguiu que ninguém menos que Steven Spielberg, o Midas de Hollywood, como já foi conhecido (e ainda o é, mesmo com alguns tropeços como O DIA EM QUE A TERRA PAROU e O TERMINAL) apostasse em seu projeto mais pessoal. Daí nasceu SUPER 8, que, se passa longe de ser uma obra prima, é uma viagem inexorável à época em que era muito divertido ir ao cinema, comer pipoca, levar sustos e dar risadas despretensiosas com humor inocente, longe da escatologia que tomou conta da Meca do cinema nos últimos 15 anos.

SUPER 8 conta a história de um grupo de amigos pubescentes em 1979 que vive numa típica cidade do interior estadunidense, cuja economia gira em torno de uma siderúrgica, e onde todos se conhecem. Em meio as filmagens de um curta metragem sobre zumbis (com ótima referência ao mestre George Romero) eles presenciam um cinematográfico (como não poderia deixar de ser) acidente de trem que quase lhes tira a vida, e a partir do qual muitas coisas estranhas começam a acontecer em sua outrora pacata cidade: os cachorros debandam, pessoas somem, a aeronáutica toma conta do lugar sem dar maiores explicações... E, claro, há um monstro a solta.  Mais clichê impossível. Mas é com esses clichês que Abrams constrói sua ode aos filmes de Spielberg e que tanto vai agradar aos mais nostálgicos, não só pela direção de arte e trilha sonora, escolhida a dedo, mas por todo aquele clima de sessão da tarde que dá o tom da fita. Abusando mais do que da conta dos reflexos (lens flare) que já havia utilizado em STAR TREK (2009), o diretor dá ao filme uma fotografia que remete diretamente a Contatos Imeditados do Terceiro Grau e recria planos que Spielberg utilizara com perfeição em Indiana Jones e também em E.T. (1982) e Tubarão (1975). A aventura dos meninos  – aliás, o elenco infanto-juvenil inteiro está de parabéns, com destaque para o “diretor” do curta, Charles (Riley Griffiths) – lembra muito Os Goonies (1985), dirigido por Robert Zemeckis, o que torna tudo muito familiar e até "forçosamente verossímil " (bem, pelo menos para os nostálgicos).

Tem cartaz mais anos 80 do que esse?!

Elementos de narrativa bem presentes em todos esses filmes citados estão presentes no bem amarrado e mastigadinho roteiro assinado pelo próprio Abrams: a busca pela aventura, a descoberta do amor, a dor da perda, relações familiares abaladas... E é esse o maior acerto da fita. Se por um lado J.J. Abrams peca pelo excesso de lens flare (mas utiliza efeitos especiais na medida certa!) - e, vá lá, pelo ET/monstro que finalmente aparece no final e na minha humilde opinão nunca deveria ter aparecido abertamente - ele acerta em cheio na emoção e na aventura, mesmo com o final piegas, como aliás não poderia deixar de ser já que o filme inteiro é uma ode ao mestre Spielberg.

Atenção: o filme só acaba quando as luzes do cinema se acendem!

Confiram o trailer legendado:

ou em formato original, em HD, mas sem legendas:


4 comentários:

  1. Esse é um que està na minha lista para ser assistido. Gostaria de ver no cinema, não sei se vai ser possivel, mas o certo é que não vou deixar de ver. Sò não concordo com "mesmo com o final piegas, como aliás não poderia deixar de ser já que o filme inteiro é uma ode ao mestre Spielberg.", não acho os filmes de Spielberg piegas, vide Contatos Imediatos, Resgate do Soldado Rayan, A Lista de Schindler... Se bem que sò de lembrar do final de A.I. eu tenho vontade de vomitar!

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  2. Danilo, quanto ao final piegas ao melhor (sic) estilo Spielberg, fiz referência ao fato "tudo sempre dá certo", algo que sempre vemos nos filmes de Spileberg, mesmo naqueles ditos "filmes adultos", como sua obra-prima A LISTA DE SCHINDLER. No caso aqui, imagine o final de ET...

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  3. Rafael, vale lembrar que em "Munique" o final não dá nem um pouco certo.

    Spielberg é gênio. SOu fã do cara :)

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