segunda-feira, 17 de março de 2014

Sonhos não envelhecem

A maior surpresa do ano nos cinemas, até agora, na humilde opinião desse que vos escreve é o mais novo filme do cineasta Alexander Payne, NEBRASKA. Como em seus filmes anterioes, OS DESCENDENTES e SIDEWAYS, Payne foca no homem comum, na simplicidade da vida, na alma humana, para contar uma história de superação, reflexão sobre o real sentido da vida e, por que não?, redenção.

Em NEBRASKA, Bruce Dern, em atuação soberba e merecedora de todos os prêmios, mas que, infelizmente foi ignorada pelo Oscar, que o gratificou com apenas uma indicação, interpreta Woody Grant, um octogenário com princípio de Alzheimer, teimoso como qualquer octogenário, não obstante ingênuo o suficiente para acreditar num spam mandado por mala direta que diz que ele foi agraciado com um prêmio de US$ 1 milhão, bastando, para tanto, ter que ir retira-lo em Lincoln, no estado americano do Nebraska.  E não há santo que tire a idéia de sua cabeça. Tanto que, para sua proteção, seu filho caçula David (Will Forte, em grande atuação também) resolve leva-lo de carro até lá. É dado o início a um roadmovie espetacular, com fotografia deslumbrante em preto-e-branco de Phedon Papamicheal, de tirar o fôlego mesmo, e direção precisa de Payne, ambos indicados também ao Oscar. Aliás, ao Oscar também foi indicado como melhor filme, melhor roteiro original (de Bob Nelson) e atriz coadjuvante para June Squibb, que interpreta Kate, esposa de Woody, uma vovó fofa que não tem papas na língua e de tudo faz para defender sua família.

Nebraska mostra o lado preto-e-branco da vida (não a toa a fotografia nesses tons), decadente e melancólico como a cidadezinha natal de Woody, onde eles fazem uma parada de emergência (que acaba se alongando mais do que necessário), extremamente provinciana e envelhecida, como sua população. O ponto alto da diversão local, além dos bares pés-de-chinelo, é o karaokê do restaurante, onde a terceira idade se encontra para tripudiar, fofocar e enganar a morte, essa querida iminente. Woody não queria estar ali, muito menos David, mas a lavagem de roupa-suja com os irmãos de Woody e a primarada vai se revelar extremamente necessária para se entender os dilemas de Woody e sua real necessidade em se resgatar o improvável prêmio de US$ 1 milhão.

Também no elenco Bob Oderkirk, o Saul Goodman de "Breaking Bad", aqui interpretando o irmão bem sucedido de David, mas nem por isso menos preocupado com a situação do pai.

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