quarta-feira, 23 de maio de 2012

O declínio da antiga classe média


Nos últimos anos,  um fenômeno ligado exclusivamente ao desenvolvimento do país na década passada, o que gerou maior distribuição de renda, chamou a atenção de estudiosos (sociólogos e “ociólogos”) e principalmente do mercado: o crescimento da classe média, ou a já famosa “nova classe C”. Mas se por um lado podemos festejar que mais pessoas saíram da linha da pobreza e adentraram no maravilhoso mundo do poder de consumo parcelado em até 18 vezes no cartão, devemos lamentar que a antiga classe média (e média alta, se é que ela existe mesmo no Brasil) esteja sendo subjugada por essa nova.


Para os entusiastas de plantão, o crescimento da classe média significa que mais e mais pessoas podem sonhar não somente com uma TV de alta-definição (nem que para assistir a DVDs piratas com péssima definição), como também podem comprar seu carro (o governo inclusive acabou de baixar os impostos para compra de automóveis para incentivar o consumo) e até sonhar com a casa própria. E isto é bom! Mas o que é mais preocupante com o crescimento da  “nova classe C” é o mercado como um todo se nivelando por baixo, principalmente o mercado cultural e de entretenimento, aqui representados pelos cinema, rádio e TV (aberta e a cabo).  De olho nesse inflado mercado consumidor, executivos que controlam esses meios, ao invés de incentivar que essas pessoas rompam seus limites intelectuais, passando a sair da mesmice e aprimorando seus gostos com acesso a produtos de qualidade (música, filmes e programas de TV, por exemplo), como era de se esperar, inundaram o público indiscriminadamente com cada vez mais produtos de gosto duvidoso, de modo a atrair sua audiência e, claro, seu dinheiro. Um exemplo clássico disso são as novelas da TV, cada vez mais focadas nesse público alvo. Executivos incentivam (leia-se: ordenam) seus autores a criar tramas cada vez mais rasas e personagens que “se assemelham” ao brasileiro médio de modo que seu público “se identifique” (como se isso fosse aumentar a audiência de um produto já consolidado há décadas). O mesmo vale para o cinema; o crescimento do mercado interno se deve quase que exclusivamente a produções cômicas que quase nada se diferenciam das novelas da TV, principalmente em seu caráter popularesco e por isso mesmo de qualidade totalmente discutível. Filmes como “Se eu fosse você 2” batem recordes de audiência enquanto belas produções como “Heleno” e “Xingu” minguaram nas bilheterias.



Outro ponto preocupante é o crescimento do acesso a TV por assinatura, e nem aqui escapamos do nivelamento por baixo. O que outrora era um escape da mesmice da TV aberta, com acesso a produtos de qualidade, em sua maioria absoluta compostos por programas no idioma original e legendados, se tornou um fardo com cada vez mais canais e programas totalmente dublados “porque a nova classe C prefere programas dublados” (leia-se: preguiça de ler). Eu, que sou entusiasta da dublagem (afinal, passei grande parte da minha vida apenas assistindo os filmes da TV aberta, ou seja, dublados), que conheço alguns profissionais da área e reconheço a qualidade com que seu trabalho é feito (e elogiado internacionalmente) não posso me conformar que a TV fechada seja inundada apenas de programas dublados (até as propagandas da TV aberta alardeiam que tal TV por assinatura de “canais de filmes dublados em português”, como se esse fosse o único chamariz para se assinar o serviço). Sim, a dublagem é necessária. Mas novamente não podemos nivelar por baixo; os canais querem apresentar seu conteúdo dublado? Ótimo! Mas é preciso que se dê a opção de se ter o idioma original com legendas. A tecnologia existe (alguns canais a usam) e precisa ser fomentada.

A base da pirâmide social brasileira se estreitou, é verdade. Mas o meio desta pirâmide está inchado e precisa ser organizado com cuidado. A antiga classe C (e também a A e a B) não pode ser subjugada pela nova Classe C. Caso contrário, a nação, ao invés de crescer, ficará estagnada na ignorância, afinal, o que povo quer é “tchu e tchá”, quando na verdade deveria querer conhecimento e educação.

5 comentários:

  1. É, no mundo dos negócios não existe ética, princípios, boas intenções, pois mais que as campanhas de responsabilidade social e ambiental tentem mostrar o contrário. Para a indústria, qualquer coisa que significar mais dinheiro imediato, vai ser feito. A solução deste problema que você descreve é melhorar o nível cultural da população, através de escola, para só então a indústria se adequar a este novo consumidor. Quem sabe nossos tataranetos viverão num mundo assim...

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  2. Não concordo com essa tabela de forma alguma. Comparar uma família que ganha R$ 1.000,00 com uma que ganha R$ 4.500,00 é um absurdo gigantesco. A classe C conforme escalonado na pirâmede não reflte de forma alguma a realidade...

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  3. Olha meu amigo, achei seu artigo bem preconceituoso. Primeiro ponto é dizer que a classe média A e B tem bom gosto e a C não tem. Porcarias sempre existiam no Brasil meu amigo. Não foi agora que essas porcarias começaram a passar na televisão, no cinema ou na musica. E também outro ponto bem discutível no seu artigo é dizer que cultura popular é pior que a tal cultura elitizada, e está sendo nivelado por baixo. Discordo totalmente e acho que o Brasil na verdade está agora democritizando sua cultura e mostrando a variedade da sua cultura. Hoje por exemplo na música temos artistas do Norte como Gaby Amarantos, do Nordeste, do Sul e de todas regiões. Assim como o cinema brasileiro que começou a ser feito por vários artistas do Brasil. Assim como universidades, começaram aceitas os mais pobres e negros. É a democratização meu amigo, ainda bem que chegamos a esses tempos. Sei que é dificil para você, perder certos priveligios, principalmente que você deve ser elite. Mas chegou a hora, de nós do povo desse Brasil, poder dizer que o pensa, poder comer melhor, poder estudar. Teremos que enfrentar pessoas com seu tipo de pensamento, mas vamos em frente o Brasil não pode parar. Te desejo uma reflexão mais afunda sobre o tema, para não cair em certos clichês preconceituosos

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    1. Uma pena que você, com um discurso tão seguro, não tenha assinado, pois teríamos assim uma discussão mais humana.

      De maneira alguma eu disse ser advindo da elite, que você clama, tampouco disse ser contra a inclusão das faixas menos beneficiadas na cultura. O que eu disse ser contra é a nivelação por baixo da cultura, bem como o acesso a ela. Cotas para negros, pobres, índios e gays, até, são a forma do governo dizer que é incompetente e quem vem dessas classes (sim, até gays) são inaptos por natureza.

      Eu também não disse que artistas Brasil afora são menos talentosos que os dos centros urbanos do sudeste (Rio, São Paulo e BH). O que está em jogo aqui sim é a qualidade de certos artistas, ou melhor, "artistas", tanto na música, quanto na TV ou cinema. E se você acha que seu povo advindo da classe C, D e E está sendo reconhecido pelos meios de comunicação, rapaz, está enganado completamente: vocês estão sendo é angariados para consumir, e nada mais chamativo, marketeiro, do que colocar o que vocês gostam na novela das 9, enfiando goela abaixo sim gostos duvidosos, que denigrem imensamente a grande cultura brasileira. De todos os estados.

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  4. SENSACIONAL, Rafael !! "o crescimento da “nova classe C” é o mercado como um todo se nivelando por baixo, principalmente o mercado cultural e de entretenimento, aqui representados pelos cinema, rádio e TV (aberta e a cabo). De olho nesse inflado mercado consumidor, executivos que controlam esses meios, ao invés de incentivar que essas pessoas rompam seus limites intelectuais, passando a sair da mesmice e aprimorando seus gostos com acesso a produtos de qualidade (música, filmes e programas de TV, por exemplo), como era de se esperar, inundaram o público indiscriminadamente com cada vez mais produtos de gosto duvidoso, de modo a atrair sua audiência e, claro, seu dinheiro. Um exemplo clássico disso são as novelas da TV, cada vez mais focadas nesse público alvo. Executivos incentivam (leia-se: ordenam) seus autores a criar tramas cada vez mais rasas e personagens que “se assemelham” ao brasileiro médio de modo que seu público “se identifique” (como se isso fosse aumentar a audiência de um produto já consolidado há décadas). O mesmo vale para o cinema; o crescimento do mercado interno se deve quase que exclusivamente a produções cômicas que quase nada se diferenciam das novelas da TV, principalmente em seu caráter popularesco e por isso mesmo de qualidade totalmente discutível. Filmes como “Se eu fosse você 2” batem recordes de audiência enquanto belas produções como “Heleno” e “Xingu” minguaram nas bilheterias." ASSINO EMBAIXO!!! A questão da evolução e desenvolvimento intelectual e cultural passa por essa "organização" desse pessoal que, em tese, ascendeu à classe C - o Governo considera "nova classe média" a família que tem 200 reais mensais per capta, se não me engano. Mudar a coisa no papel é fácil, fazer a pessoa consumir e se endividar, também. Quero ver é aumentar o nível de instrução dessa gente só com essas (e outras) medidas popularescas, fisiologistas e eleitoreiras!

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