domingo, 9 de novembro de 2014

Vida de menino - anos mais que incríveis

Você conhece o seriado THE WONDER YEARS (Anos Incríveis), não? Se não, pare de ler essa resenha e corra para assistir. AGORA! Tem no youtube, tem na locadora bittorrent, tem algum amigo seu que tem todos os episódios gravados em VHS até. E vai ser lançado em DVD - finalmente!!! - esse ano. Para quem tem mais de 30 anos e viveu neste planeta (do lado ocidental, pelo menos) entre 1988 e 1993 e sabe do que estou falando, vai se identificar com essa obra-prima de Richard Linklater.

Não, BOYHOOD não se passa no final dos anos 1960, a exemplo da história de Kevin Arnold e cia., mas entre os anos de 2001 e 2013. A semelhança com o melhor seriado já feito fica a cargo da testemunha que somos do crescimento do menino Mason (Ellar Coltrane), desde seus 7 anos até sua ida para a faculdade, aos 18, e também da trilha sonora. Se em "Anos Incríveis" somos bombardeados com hits dos anos 1960 e 1970 para emoldurar a história (aliás, sem a trilha o seriado perderia muito de seu charme, daí o atraso para seu lançamento em DVD), em BOYHOOD hits da década de 2000 até 2013 tomam conta da história e nos remetem imediatamente à época em que determinada passagem do filme está sitauda. E isso Linkalter fez muito bem.

Posso dizer, sem medo de errar, que BOYHOOD é um THE WONDER YEARS resumido em 2h40 de projeção. Seria como pegar as melhores passagens do seriado (e não são poucas) e condensar num filme de 160 minutos. Tarefa ingrata, aliás. Mas Linklater foi além: resolveu ele mesmo acompanhar o crescimento de um menino até o início de sua vida adulta em tempo real. Sim, já cansamos de assistir filmes ou produtos para a TV onde os personagens crescem, sendo para isso escalados atores diferentes para viverem os personagens em cada fase de sua vida contada na tela. No caso de BOYHOOD, Linklater e seu grande amigo e parceiro de outros projetos Ethan Hawke (aqui produtor e também ator, no papel do pai de Mason) apostaram todas suas fichas e filmaram num período de 12 anos com o mesmo elenco, nas mesmas locações, justamente para acompanharmos o amadurecimento dos personagens, principalmente Mason. O risco era alto, mas Linklater sabia o que fazia. Ou pelo menos pareceu muito bem saber. O roteiro, escrito pelo próprio diretor, foi sendo adaptado ao longo dos anos, nos períodos de filmagem, de modo que a contemporaneidade  da história não se perdesse, tornando-a verossímil. Mas o mais importante, no entanto, foi o desenvolvimento dos personagens. Esse, a exemplo de outros filme do diretor, como "JOVENS, LOUCOS E REBELDES" e a trilogia do "ANTES..." (...do amanhecer, ...do por-do-sol, ... da meia-noite), é um filme de personagens, de diálogos contundentes e profundos, É um filme para se ouvir e conhecer. Um verdadeiro desafio, claro, para os atores, principalmente para o elenco infantil, que precisou crescer - e amadurecer - junto com seus personagens.

Não espere aqui, pois, cenas que mostram o be-a-bá do amadurecimento dos personagens, em especial do menino Mason. Não há o primeiro beijo, o primeiro cigarro, o primeiro porre, a primeira transa. Tudo isso é relegado a segundo plano, sutilmente citado ou sugerido (a cena da lanchonete onde o pai conversa com a filha de 15 anos sobre sexo e anticoncepção é tão constrangedora para Mason como para nós, na platéia, mas ao mesmo tempo deliciosamente real). O amadurecimento de Mason é mostrado através de seu relacionamento com a irmã e  os pais divorciados (o pai aventureiro, músico, por vezes desempregado, mas sempre presente; a mãe trabalhadora, interpretada por Patricia Arquette, à procura quase eterna da figura paterna perfeita para seus filhos). As situações familiares pautam a história e é aí que acerta Liklater, que deve ser indicado ao Oscar de roteiro original e também diretor ano que vem,

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