quinta-feira, 29 de maio de 2014

Godzilla, o amigo da garotada


O que falar sobre o novo filme de Godzilla, o monstro mais famoso do cinema, sem frustrar os fãs mais ardorosos e, principalmente, sem soltar nenhum spoiler?! Bem, eu passo adiante o desafio. Esteja avisado que pode sim rolar um ou outro spoiler no texto. E sim, vou acabar frustrando qualquer fã do lagartão.  Por quê?! Ora, deixa eu ser sincero aqui: depois da bomba que foi o filme de 1998 dirigido pelo apocalíptico Roland Emmerich, não poderíamos esperar nada pior. Mas também poderíamos esperar algo melhor. Bem... melhor até é. Mas mesmo eu tendo me divertido muito no cinema, não posso deixar de lado as falhas do filme, principalmente no que diz respeito ao roteiro escrito por Max Borenstein (famoso quem?!). Aliás, que roteiro medíocre...



Começamos numa cidade costeira do Japão, onde Joe Brody (o impagável Bryan Cranston, de peruquinha!), um engenheiro americano responsável pela usina nuclear local perde a mulher (Juliette Binoche, no papel mais "whatever" de sua carreira), também engenheira nuclear,  num terrível acidente que destrói todo o local. Ele até tentou evitar a destruição, pois tinha em mãos seus estudos sobre estranhas ondas sonoras que poderiam ser sinal de um terremeto vindoro (!!!), mas foi tudo em vão. Passam-se 15 anos e seu filho, Ford (o agora sarado Aaron Tayler-Johnson, de "Kick Ass"), um jovem tenente do exército americano especialista em desarmar bombas, está revendo a família em São Francisco depois de um longo tempo fora, quando recebe um telefonema do consulado americano no Japão dizendo que seu pai foi novamente preso por tentar entrar na cidade evacuada - e abandonada - que outrora chamou de lar. Como bom filho, Ford se despenca para o Japão para buscar seu excêntrico pai e convence-lo a deixar o passado para trás e voltar com ele para os EUA, mas Joe está obcecado em descobrir a verdade e Ford não tem alternativa a não ser acompanhar seu pai em mais uma tentativa de entrar na zona proibida, onde espera recuperar seus zip discs (!!!) onde tem toda a sua pesquisa (toda a sua pesquisa, leia-se, de algumas horas de trabalho anterior ao desastre!). Eles descobrem que não há qualquer radiação na cidade, mas acabam presos pelo exército japonês, que os levam até a usina, onde algo muito estranho está acontecendo.  E esse algo muito estranho se revela um monstro aparentemente inofensivo, preso, que se alimenta de radiação, que após levar um choquinho (que deveria mata-lo, segundo os cientistas), se rebela e mata meia dúzia de japoneses na sua fuga. Joe se fere gravemente, mas não morre! Não ainda. Não antes de dizer ao filho para voltar para sua família. Foi preciso duas cenas para isso. E nenhuma outra para convencer o rapaz a voltar para casa na companhia do exército americano, que conta com a ajuda do cientista japonês Ishiro Serizawa (o excelente Ken Watanabe), que conta um papo-furado sobre monstros pré-históricos que se alimentam da radiação do centro da Terra e que são inimigos do famoso "Gojira", seu predador natural, que despertou de seu sono profundo pelo "gritos" do monstro, uma espécie de baratona, que estava chamando por sua parceira, outra baratona que descobrimos estar enterrada (havia sido dada como morta quando achada nas Filipinas) no deserto de Nevada, destino de todo o lixo radioativo dos EUA! O que faz a marinha americana? Coloca toda sua frota do Pacífico para escoltar o poderoso e assustador Godzilla, que segue a baratona voadora até o Havaí e daí para São Francisco, onde a outra baratona, essa não alada, o está esperando depois de fugir de dentro da montanha vizinha a Las Vegas.

Mas Rafael, você vai contar todo o filme?! Não. Isso aí que eu relatei são apenas os 30 primeiros minutos do filme. Se você não se espantou com essa apresentação da trama, vá ao cinema sem medo! Se você achou esdrúxulo, bem, prepare-se para mais. E estou falando apenas do roteiro! O nosso amigo Ford, então, resolve obedecer o pai, fugindo totalmente daquilo que chamamos "jornada do herói". Ele não quer saber do Godzilla, que nada tranquilamente abaixo dos navios americanos. Ele não quer saber da ameaça dos monstros a São Francisco. Ele quer voltar pra casa. Mas sua casa é o epicentro de toda a confusão. Morte e desespero por todos os lados (menos para o pessoal que desavisadamente continua trabalhando em um escritório num dos prédios de São Francisco enquanto o pau come lá fora). O que faz Ford? Telefone pra casa e ao invés de pedir que a mulher e o filho fujam para o mais longe possível, pede que eles o esperem que ele já está chegando!!!! Não antes, claro, de um pit stop no Havaí. Godzilla então chega a ilha trazendo consigo um gigantesco tsunami que só serve para provar o quão resistente são as vidraças havainas! E olha que nem citei o fato do mar recuar (como num tsunami comum) antes da chegada do lagartão, num momento mais "what the fuck" possível. Momento, aliás, que não se repente em São Francisco (provavelmente ele aprendeu a não destruir a cidade com uma onda...).

O exército americano tem um plano genial para atrair os três monstros para fora do continente: pegar o que parece ser as duas únicas ogivas nucleares dos EUA, transporta-las de trem de onde quer que elas estivessem, até S. Francisco e de lá para o meio do oceano. Claro que os monstros baratões, que se alimentam de radiação, não vão deixar isso barato (ahaha! baratões, barato... entendeu?!?!).  E claro que nosso insuspeito herói, por quem não sentimos qualquer empatia (fato desastroso para qualquer protagonista, ainda mais num filme-catástrofre) vai ajudar nessa missão. Enquanto isso, a cidade é evacuada através da famosa Golden Gate... QUE ESTÁ INTERDITADA!!!! What the fuck triplo carpado invertido!!!

Chega, não dá para falar mais se não entregar o final.

Para não dizer que não falei das flores, a melhor cena do filme é o salto de paraquedas (?!?!) dos soldados sobre São Francisco enquanto os monstros digladiam. E o Godzilla é aquele que nos lembramos dos filmes japoneses e que muito também se assemelha ao do famoso desenho da Hanna-Barbera. Quando ele solta seu  mortal raio pela boca, nossa, momento delirante! Claro que ele teria, juntamente com os baratões radioativos, contaminado toda a região de São Francisco e adjacências, mas quem está preocupado com isso, certo?

Como eu não consigo desligar meu cérebro, eu pelo menos tento relevar essas... incongruências  digamos assim, do roteiro e me divertir um pouco. E eu me diverti! Ri e até aplaudi algumas cenas. Palmas para o diretor Gareth Edwards!

Ah, se você for ver em 3D, saiba que vai jogar seu dinheiro fora. O filme não tem qualquer cena que mereça esse efeito, além de ser extremamente escuro. Então, não jogue fora seu dinheiro... Guarde-o para assistir Godzilla 2 (ele certamente voltará para salvar o dia em alguma outra cidade).


Nenhum comentário:

Postar um comentário