terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ecos de uma festa que não chega aqui

Domingo assistimos (ok, eu assisti) a 68ª. entrega dos Globos de Ouro, prêmio que  a HFPA (sigla em inglês para a Associação da Imprensa  Estrangeira de Hollywood) dá aos melhores do ano na TV e no cinema dos Estados Unidos (claro, há também prêmio para melhor filme em língua estrangeira). Tirando o óbvio interesse comercial que há por de trás da cerimônia, que mal ou bem dá para os filmes uma visibilidade para o Oscar, a festa é mais um reconhecimento ao trabalho daqueles profissionais que fazem da TV estadunidense, mais que nunca, uma grande indústria. O mesmo podemos dizer do Emmy, que premia realmente toda a indústria de TV daquele pais, distribuindo troféus de reconhecimento não só para atores e produtores, mas para roteiristas, diretores, fotógrafos, enfim, toda a equipe técnica por trás de um programa de TV, em suas diversas categorias (comédia, drama, talkshow, realityshow...).


E aqui? Quando teremos uma premiação como essa? Infelizmente, a resposta é “não tão cedo”, e isso sendo bem otimista.  Ah, tem o Troféu Imprensa, distribuído pelo Silvio Santos anualmente, que premia também o mercado fonográfico, mas, como poderá ler mais abaixo, está bem aquém do que poderia ser uma verdadeira premiação para os talentos do cinema e principalmente da TV brasileiros.

Por que de tanto pessimismo? A resposta é clara: no Brasil não temos produção televisiva, principalmente em se tratando de teledramaturgia, que justifique uma premiação nesses moldes, ainda mais quando essa produção é extremamente centralizada. Sim, estou falando da Rede Globo de Televisão. E não, eu não sou anti-Globo, muito pelo contrário! Eu admiro muito a força e a qualidade (técnica) das produções globais. O problema é que ela, enquanto toda poderosa, concentra quase toda a produção no país, principalmente em teledramaturgia.

Para fins de comparação, nos EUA temos quatro grandes emissoras: a ABC (a Globo de lá, mas nem por isso tão mais importante e poderosa que as outras), a NBC, a CBS e a FOX. Isso sem falar nos canais locais e os trocentos a cabo que também produzem material para TV, como a HBO, que há anos nos brinda com o melhor que a teledramaturgia pode oferecer, dando banho nas produções cinematográficas, que há muito, tirando raríssimas exceções, deixam a desejar no quesito qualidade e originalidade (basta ver a quantidade de remakes tanto de suas produções antigas quanto oriundas de outros mercados, principalmente o asiático que chegam as telas). Aqueles quatro canais produzem (muitas vezes co-produzem com estúdios de Hollywood) e exibem em pé de igualdade talkshows, seriados, minisséries, realityshows, telejornais e até novelas.

E aqui? Vamos falar de teledramaturgia: quantos canais temos e quantos deles produzem algo  para a TV? A resposta é mais que óbvia. Tirando a Rede Globo, apenas a Record tem alguma produção considerável que se mantém ao longo do ano (uma temporada, se seguirmos os moldes dos EUA). SBT tenta todo ano, mas não emplaca uma novela. BAND? A cada 10 anos ela faz uma incursão em teledramaturgia, sem grande alarde ou resultados. E só. Os canais locais brasileiros são praticamente todos afiliados de uma dessas grandes emissoras e sua produção limita-se a um programa de entrevistas barato. O resultado disso é o que vemos no Troféu Imprensa do tio Silvio e outras premiações menores, como das revistas de fofoca: várias categorias que premiam quase que exclusivamente as produções globais; afinal, são as únicas que existem praticamente.

Ai eu pergunto: será que num país das dimensões do nosso não existem profissionais que podem ser aproveitados por todas essas emissoras, mesmo as locais, e com isso a produção de teledramaturgia crescer de verdade? Claro que existem! Mas eles não conseguem chegar ao mercado, principalmente – e novamente – por conta da centralização desse mercado na Rede Globo e, claro, pelos altos custos de produção, que limitam o interesse das emissoras em investir no formato, preferindo programas de auditório e entrevistas (muito baratos de serem produzidos, em comparação com novelas e seriados).

Isso tudo é muito triste. Enquanto a hegemonia da Globo não sofrer um forte abalo, a situação não será revertida. Não torço pela queda de nossa maior emissora e produtora de TV, veja bem! Eu apenas gostaria que o “monopólio” fosse quebrado, pois temos muitos diretores, roteiristas e atores desesperados por uma chance. Nossa TV por assinatura ainda engatinha e as produções para esses canais fechados ainda são parcas. Falta interesse e investimento. Mas ainda sonho com o dia em que Silvio Santos, mesmo que aos 100 anos (não deve faltar muito)  possa anunciar uma categoria em seu Troféu Imprensa em que a Rede Globo não seja a principal ou mesmo única representante.

2 comentários:

  1. "quebra de monopólio..."??? Qual? Só porque a maioria das pessoas assistem os programas da Globo e essa amisora exerce, de fato, maior influência no meio televissivo não significa que haja monopólio. Acho que o que falta é incentivo financeiro (estou me referindo às pequenas emissoras filiadas ou não que não tem dinheiro para bancar suas próprias produções), interesse por parte dos produtores (de qualquer emissora) de fazer programas de qualidade e, principalmente, falta interesse dos telespectadores por programas de qualidade (seja novela, jornalismo, documentários, etc.). Falta cultura para o brasileiro. Veja que temos Mais Você (e a péssima apresentadora (?), comunicadora (?), Ana Maria Braga), Gugu e Zorra Total ainda no Top... (Todos, no meu ponto de vista, de péssimo gosto) Eles continuam no ar porque ainda dá retorno.

    Mas esse negócio de monopólio é muito complicado. Não sei se você elgum dia teve a oportunidade de conversar com um argentino e perguntar para ele como é a influência do grupo Clarín no país e como eles estão tratando dessa questão do monopólio. Eu tive! E posso garantir, o buraco lá é muito mais fundo e sujo do que o daqui.

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  2. Danilo, concordo com você. Não atoa eu coloquei monopólio entre aspas. O que acontece mesmo, como eu disse no texto, é a CENTRALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO, pois a Globo, como maior emissora e produtora do país, acaba não dando espaço para a concorrência, já que mantém em seu staff a maioria dos bons roteiristas, diretores e atores, mesmo que na geladeira, de modo que outras emissoras não possam contar com essa mão de obra. E as outras emissoras não correm atrás também. Claro, esse é apenas um dos motivos. Como você falou, a falta de interesse de investidores e até espectadores por programas de qualidade é outro. E não para por ai...

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