terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Banalização on line da infância

Essa moda de youtubers mirins é curiosa. Até há bem pouco tempo as crianças queriam ser bailarinas, cantoras, atrizes. Hoje, sonham ser como outras crianças e ficar fazendo "vídeo de desafios" e falando bobagem para a câmera, almejando seguidores mil e fama. Fama a qualquer preço. É o Big brother da internet.

Minha filha não é exceção. Ela e uma amiga estão começando a produzir videos IDÊNTICOS aos que centenas de outras crianças já estão fazendo - e não adianta falar para fazer algo mais original; não há algo original a ser feito. De repente uma edição mais bacana (coisa que o papai aqui sabe fazer). Mas o que elas querem é fazer EXATAMENTE o que as outras crianças estão fazendo.

A "ídala" da Julia hoje é uma menina chamada Bel, que tem um canal com mais de 1.2 milhão (!!!!) de assinantes. Bel tem 8 anos e desde os 6 tem esse canal no Youtube com a mãe. O que começou com alguns vídeos até "educativos" sobre penteados de cabelo para meninas (algo legal de ensinar, é verdade!) virou EXATAMENTE um BIG BROTHER, onde a vida da menina nos últimos dois anos é exibida quase que 24/7, em vídeos sem graça (sem graça mesmo! nem edição tem!) onde mãe (uma ném mais brega que não sei o quê) e filha (uma menina chatinha pra caramba) ficam ou mostrando como se joga um jogo que compraram, ou mesmo uma brincadeira qualquer (tipo, o jogo odo alfabeto), ou fazendo desafios ridículos (bem, ridículo para os adultos, claro, as crianças se divertem, é verdade), como misturar alimentos distintos no liquidificador e beber (eca!). Isso sem falar em vídeos absurdos onde, por exemplo, a menina se perde no shopping e a mãe a filma de longe esperando para ver sua reação. Dá pena.

E medo.

Medo porque essa mãe (e o pai, claro) super-expõe a filha de 8 anos num ambiente hostil como a internet. A partir dos vídeos, por exemplo, sabemos onde a menina mora, onde estuda, que shopping frequenta, quem mora com ela, quais são seus hábitos...  Mas a menina aparentemente se diverte e isso é o que importa, né? Onde estão os limites?

Para não dizer que estou exagerando, esses mesmos pais já criaram um canal para a filha caçula, de apenas 10 meses, onde repetem a fórmula feita com a filha mais velha. Esse mesmo canal já teria mais de 100 mil assinantes! Para assistem um bebê!

É ou não é a banalização da vida?

Se hoje nós olhamos curiosos para os outrora artistas-mirins e como suas carreiras e vidas se deturparam (a maioria), o que podemos esperar desses jovens "youtubers" quando a fofura da infância passar e eles não tiverem mais nada o que mostrar na internet (se é que haverá youtube ou mesmo a internet como a hoje conhecemos daqui a alguns anos!)?