sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Mérito a quem é de direito


A greve dos professores do município do Rio de Janeiro, que já vai para mais de 60 dias, é um direito da classe e sua luta está sendo apoiada por toda a sociedade carioca e fluminense, muito mais por seu descontentamento geral com a quadrilha que (des)governa nossa cidade e nosso estado do que com as reivindicações do magistério. Dentre todas essas reivindicações, uma me chamou particular atenção essa semana: o SEPE (Sindicado Estadual dos Profissionais de Educação) é contra a meritocracia. Mas como assim?


Mérito, segundo o dicionário da língua portuguesa, é "aquilo que faz com que uma pessoa seja digna de elogio, de recompensa; merecimento." Tem ainda como sinônimo préstimo e valor.  Daí provém o termo meritocracia que, segundo o mesmo dicionário, significa "predominância dos que possuem méritos (numa sociedade, numa organização, num grupo, num trabalho ou ofício etc); predomínio das pessoas que são mais competentes e eficientes". Ou seja, a meritocracia seria, em suma, o reconhecimento de pessoas por seus méritos, sejam eles pessoais ou profissionais. Sinceramente, eu não vejo onde isso possa ser prejudicial para uma classe tão importante quanto a dos professores e outros profissionais de educação. É óbvio que quanto melhor sua formação e seu investimento em reciclagem profissional, seja com cursos, seja com pós-graduações, mestrados, doutorados, só trazem boas contribuições para o ensino, muito embora - e isso é igualmente óbvio e, se não mais, tão importante quanto - deva haver condições e políticas de ensino para que todo esse aprendizado adquirido com esforço seja aplicado em prol de uma educação pública de qualidade. Não discuto isso.

Mas conversando sobre isso com algumas pessoas, dentre elas algumas mais exaltadas de "extrema-esquerda" (atenção às aspas), percebi que a meritocracia, segundo essas pessoas, é péssimo porque premia somente os mais abastados, advindos de uma classe já privilegiada, e que por isso teriam a "sorte" de ter nascido num mundo de mais oportunidades, onde conseguiriam com muito mais facilidade obter os méritos por suas conquistas ("rasas").

Um instante para respirar fundo...

COMO É QUE É?!

Então o fato de uma pessoa ter nascido com mais condições financeiras é motivo para que ela não tenha méritos? Só porque teve, ou melhor, teria tido mais facilidades de bancar um curso, uma pós-graduação, um mestrado (atenção: não conheço ninguém que tenha pago o mestrado do próprio bolso; geralmente são oferecidas, assim como para doutorado, bolsas de estudo nas mais diversas instituições de ensino) e por isso adquirido melhor preparação para o mercado de trabalho, seja qual for sua profissão, ela não deve ser reconhecida? Por outro lado, o pobre coitado favelado, que lutou muito mais para conseguir chegar onde os "abastados" também chegaram, merece todos os louros? Como assim?!

Num mundo ideal, utópico, todos são iguais, todos nascem iguais, todos tem iguais condições de chegar lá. Só que não vivemos num mundo desses. Hoje, para se chegar lá, é preciso, mais do que condições financeiras, ter vontade, determinação e aptidão. Sem contar vocação! Sim, vocação! A quantidade de profissionais que não tem a menor vocação para o que está fazendo, tendo as vezes seguido determinada profissão por imposição da família, não está no gibi. Soma-se a isso então a falta de vontade de crescer ou procurar  novos caminhos. Tem-se então um péssimo profissional, encostado, esse sim sem quaisquer méritos. E estou falando de TODAS AS PROFISSÕES.

Agora, afirmar que o "sortudo" por ter nascido "mais rico" ou até "mais inteligente" não tem méritos por ter chegado lá é de uma ignorância ímpar! Da mesma forma que é ignorante afirmar que só os pobres e "burrinhos" que se esforçaram mais devam receber devido mérito. TODOS, em caixa alta mesmo, TODOS DEVEM SER RECONHECIDOS. Se uns se esforçaram mais para, láureas para eles. Mas não são melhores do que os outros; apenas tiveram que se esforçar mais para chegar no mesmo lugar.

Veja bem: não sou contra  a igualdade entre as pessoas. Apenas defendo que todos devem lutar pelo que querem, todos devem de alguma forma saber o que querem e onde querem chegar. Os meios com os quais lá chegarão dependerão única e exclusivamente delas e sua vontade de lá chegar, de ter MÉRITO por isso.



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