segunda-feira, 5 de março de 2012

Uma ode ao cinema

Quando me disseram que Martin Scorsese dirigiria um filme infantil e em 3D eu levei um susto: como assim?! O diretor de “Touro indomável”, “Taxi Driver” e “Os infiltrados”, um ícone no cinema urbano-mundo-animal desde os anos 1970, fazer um filme para crianças e em 3D?! Algo não daria certo ai. Felizmente eu estava enganado. “A invenção de Hugo Cabret” não somente é um filmaço como também é uma ode ao cinema, a sua história, a seus fundadores. E o fato dessa ode ser dirigida por um nome como Scorsese só  trouxe mais credibilidade a homenagem.

Tirando o desnecessário 3D, que não consigo enxergar por ter visão monocular, mas que tenho certeza de que foi muito bem empregado por Scorsese (dizem ser o melhor exemplo desde “Avatar”, de James Cameron, que praticamente reinventou o estilo moribundo),  e o fato do filme não ser lá infantil (como pregavam as ações de marketing), tudo está na tela por um propósito. Todos os cenários, todos os personagens, todas as situações. A fotografia e a trilha sonora são deslumbrantes e ajudam a contar a história desse Huckleberry Finn do século XX que, ao invés do Rio Mississipi mora na estação de trem de Paris dos anos 1930 e precisa se virar para sobreviver depois que, já órfão de mãe, perde o pai, relojoeiro, num incêndio e vai morar com o tio alcoólatra, responsável pelos relógios da estação. Largado a própria sorte, Hugo (Asa Butterfield, de “O menino do pijama listrado”) tem a grande missão de consertar o autômato que o pai encontrara jogado no porão do museu antes de morrer, pois tem certeza de que o robô trará alguma mensagem de seu pai. Para isso ele constantemente rouba peças da loja de brinquedos da estação, cujo dono é o misterioso Messier George (Ben Kinsley, inspirador), cuja sobrinha Isabelle (a lindinha e talentosa Chloë Grace Moretz, de “Deixe-me entrar” e “Kick Ass”), nas graças da qual cai, passa a ajuda-lo em sua demanda.

A passagem do filme em que Scorsese abre seu coração e declara seu amor ao cinema, ao contar um pouco da história de George Meliès, mágico que se apaixonou pela sétima arte numa apresentação dos irmãos Lumiére e se tornou um dos pioneiros do cinema e da ficção científica e que morreu no ostracismo às vésperas da Segunda Guerra Mundial, é de fazer qualquer marmanjo chorar, principalmente marmanjos como eu que são apaixonados por cinema.

Assista Hugo nos cinemas e embarque nessa viagem nostálgica ao berço da sétima arte.

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